segunda-feira, 9 de maio de 2011

AOS CASADOS...





Aos casados há muito tempo
aos que não casaram, aos que vão casar,
aos que acabaram de casar,
aos que pensam em se separar,
...aos que acabaram de se separar,
aos que pensam em voltar...

Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado
uma ótima posição no ranking das virtudes,
o amor ainda lidera com folga.
Tudo o que todos querem é amar.
Encontrar alguém que faça bater forte o coração
e justifique loucuras.
Que nos faça entrar em transe, cair de quatro,
babar na gravata.
Que nos faça revirar os olhos, rir à toa,
cantarolar dentro de um ônibus lotado.
Tem algum médico aí???
Depois que acaba esta paixão retumbante,
sobra o que?

O amor.
Mas não o amor mistificado,
que muitos julgam ter o poder de fazer levitar.
O que sobra é o amor que todos conhecemos,
o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho.
É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo.
Não existem vários tipos de amor,
assim como não existem três tipos de saudades,
quatro de ódio, seis espécies de inveja.
O amor é único, como qualquer sentimento,
seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.

A diferença é que, como entre marido
e mulher não há laços de sangue,
a sedução tem que ser ininterrupta.
Por não haver nenhuma garantia de durabilidade,
qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza,
e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar
uma relação que poderia ser eterna.
Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá.
Lindo, mas insustentável.
O sucesso de um casamento
exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto,
tem que haver muito mais do que amor,
e às vezes nem necessita de um amor tão intenso.
É preciso que haja, antes de mais nada, respeito.
Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios.
Alguma paciência... Amor, só, não basta.

Não pode haver competição. Nem comparações.
Tem que ter jogo de cintura para acatar regras
que não foram previamente combinadas.
Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos,
acessos de carência, infantilidades.
Tem que saber levar. Amar, só, é pouco.

Tem que haver inteligência.
Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais,
rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar.
Tem que ter disciplina para educar filhos,
dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra.
Não adianta, apenas, amar.
Entre casais que se unem visando à longevidade do matrimônio
tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância,
vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança.
Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu,
fazer de conta que não escutou.
É preciso entender que união não significa,
necessariamente, fusão.
E que amar, 'solamente', não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia,
falta discernimento, pé no chão, racionalidade.
Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre,
mas que sozinho não dá conta do recado.
O amor é grande mas não é dois.
É preciso convocar uma turma de sentimentos
para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.
O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!


Texto de Arthur da Tavola

sexta-feira, 25 de março de 2011

O PATINHO FEIO E O VISAGISTA


Conta a estória que havia uma família de patos onde um dos filhotes se destacava por ser diferente dos demais. Ele não tinha os mesmos traços, as mesmas formas, o que fazia com que fosse alvo constante de brincadeiras e piadinhas entre eles. Diziam que ele era desorganizado, que tinha dificuldade de se concentrar e que nunca terminava as tarefas que começava. Com isso, se sentia desprezado, deprimido e por ser genioso, ora tinha acessos de raiva, pois ninguém o encarava como um igual, até mesmo sua mãe o tratava diferente...
Certo dia, estava ele a passear pela floresta, triste, olhar perdido para todos os lados. Pensava seriamente em abandonar sua casa e se aventurar pelo mundo, já que não se sentia parte integrante de sua família. Foi quando avistou em cima de uma árvore um ser que nunca havia visto. Era de uma penugem vermelho-amarronzada, tinha um formato retangular largo, um bico pronunciado e olhos grandes e bem abertos. Como era comum ser rejeitado pelos seus, temeu que o desconhecido também o rejeitasse, e tentou seguir em frente. Foi quando ouviu uma voz chamando:
- Olá amigo, porque estás tão triste assim?
O patinho feio se assustou, olhou para os lados para ver se avistava mais alguém, e ao constatar que estava a sós com a criatura, cabisbaixo, voltou-se para ela, ainda receoso com o que estava por vir.
- O senhor falou comigo?
- Sim, com quem mais eu poderia falar se estamos somente nós dois aqui? - Respondeu o ser do alto da árvore.
- Desculpe, é que não estou acostumado a receber atenção nem da minha família, ainda mais de alguém que eu nem sabia que existia...
- Hum, quer dizer que você nunca havia visto uma coruja? – indagou o ser estanho.
- Coruja? É assim que chamam o senhor?
- Sim, eu sou uma coruja, e percebo que você está muito triste, o que aconteceu?
- É que eu estou pensando em abandonar minha casa. Minha mãe e meus irmãos não gostam de mim e sinto que aqui não é meu lugar, não sou bem aceito...
- E para onde está pensando em ir? - Indagou a coruja.
- Prá falar a verdade eu ainda não sei direito, não tenho para onde ir, não conheço mais ninguém além daqueles que me rejeitam, acho que ninguém gosta de mim pois sou muito estranho, sou diferente dos demais...
- Os seus irmãos são iguais a mim também?
- Não mesmo – respondeu o patinho feio – são muito diferentes. Será que eles também não gostariam do senhor?
- É provável – respondeu a coruja – pelo que você fala, os seus irmãos vivem presos dentro de certos paradigmas, onde acham que só é bom o que for igual, não sabem ver o valor das diferenças...
- Paradigmas? O que é isso? - Perguntou o patinho,agora mais interessado na conversa.
- Paradigmas são conceitos fechados, regras pré-definidas, não encaixam novos elementos. As pessoas aprendem as coisas de um único jeito, e acreditam que nada possa ser diferente daquilo que apreenderam, por isso esse comportamento de rejeitar o que é novo, diferente, não se dão a chance de conhecer, analisar, descobrir coisas boas e novas nas diferenças. Os seus irmãos cresceram dentro desse paradigma, por isso não te compreendem, não reconhecem seus valores, o que você tem de positivo em ser diferente.
- Mas tem alguma coisa boa nas minhas diferenças?
- É claro que sim, sempre existem pontos fortes, assim como pontos fracos, em todos nós.
- Eu devo de ter só pontos fracos então...
- Nada disso. Venha mais perto, deixe-me olhar bem para seu rosto... Hum... Está vendo essas linhas inclinadas para cima em seu rosto? Elas indicam que tens vigor, energia e és dinâmico.... e esse bico proeminente seu, que vem de sua testa alongada, ele expressa impulsividade, determinação; seus olhos espaçados, arredondados e inclinados para cima mostram que és curioso, criativo e tens muito interesse em tudo, assim como deves ser extrovertido e comunicativo. O que acontece é que você se esconde, por ser rejeitado pelos demais, e não põe prá fora, não deixa transparecer quem exatamente és. Vou te dar algumas dicas que o ajudarão a mostrar ao mundo realmente a sua personalidade, o que você expressa, o que tem de bom, e isso lhe trará auto-confiança o suficiente para fazer com que os outros reconheçam quem é você, os seus valores e a sua importância para o mundo. A partir do momento que você se reconhecer visualmente, os outros também o reconhecerão...
E a partir desse dia, o patinho deixou de ser feio, pois aprendeu a exteriorizar ao mundo quem realmente era e o que queria expressar. Tudo mudou em sua vida depois de conhecer o visagismo...

(texto lúdico, dedicado ao Mestre Philip Hallawell, que com seus ensinamentos, me ajudou a deixar de ser um “patinho feio” em minha profissão...)


REFLEXÃO...
Esse texto ilustra, de forma lúdica, o benefício que podemos trazer à vida de alguém com a aplicação do visagismo. É lógico que não estou sugerindo que se possa aplicar visagismo em animais, a utilização do conhecido conto “O Patinho feio” do dinamarquês Hans Christian Andersen, é somente para ilustrar que muitas vezes as pessoas podem estar infelizes justamente por não se conhecerem tão bem e principalmente, não saberem como se “expor” ao mundo, como se apresentarem, se mostrarem, terem um boa e eficaz comunicação visual, saberem ao certo como passar às pessoas o que se é, ou o que se quer passar. O “feio” no Patinho da estória não era na verdade uma característica, e sim, um estado em que se encontrava, justamente por ser rejeitado pelos demais, e não saber se expor, se expressar para o mundo.